Os trabalhos desenvolvidos pela Polícia Federal vêm derrubando esquemas de roubo, lavagem de dinheiro e corrupção como poucas vezes se viu na história recente. O problema aparece na relação entre a PF e a imprensa brasileira.

Em todas as ações da PF existe uma TV, um jornal, ou os próprios policiais gravam imagens e depois cedem à imprensa. Teoricamente, tudo certo. A polícia investiga, prende, depois, divulga para o grande público através da mídia. Na prática, começo a ver com maus olhos esta relação, principalmente com a divulgação de alguns relatórios e especulações, como os que foram encontrados na revista Veja, contra Renan Calheiros e no O Globo, contra Anthony Garotinho.

Calheiros tem relações com um lobista, segundo a PF e publicação da Veja. Algo investigado, mas nada de ilegal encontrado. Caso tivesse algo ilegal, Calheiros seria, no mínimo, incomodado pela PF e não foi. Agora, vai dizer para o grande público que Calheiros não tem culpa no cartório. Complicaram muito a vida deste político. E sem provas de ilegalidade. Relações de um político com um lobista são sempre imorais. O político é um homem público, que deve zelar pela sua moral. E, se não for constatada a ilegalidade das ações de Calheiros, a imoralidade já está. Mas o abuso da imprensa condenou o presidente do Senado Federal a se defender sem, ao menos, ser acusado judicialmente.

Já Garotinho teve seu nome envolvido com negociatas da empresa Gautama, descobertas pela PF através da Operação Navalha. O que se disse no jornal O Globo foi que o Governo do Estado do Rio, quando Garotinho deixou o poder para se candidatar a Presidente, teria repassado, em um só dia, milhões de reais para a empresa. Informação errada e mal apurada. O dinheiro mencionado pelo jornal carioca faz parte de convênios assinados entre o Estado e os municípios, sendo de responsabilidade municipal as licitações e a contratação de empreiteiras para as obras. O Governo, então, repassa a verba para as prefeituras, que pagam a estes empreiteiros. Percebe-se aqui, que o Governo do Estado não tem relação direta com os contratados para fazer as obras. Garotinho, desta vez, não tem culpa alguma diretamente. Apenas na imoralidade que é pagar tantas despesas no "dia de despedida" da cadeira de Governador.

Esta relação entre mídia e PF pode prejudicar muito um trabalho que começou bem. Diante de um cenário em que as empresas de comunicação buscam sempre defender os seus e acusar os dos outros, a PF pode perder um pouco a credibilidade de suas investigações. Será que alguém não percebeu o tom da Veja com Renan Calheiros e o tom do O Globo com o mesmo? Um ataca, o outro só coloca. O primeiro tenta execrar, o outro tenta defender. Posicionamentos exageradamente acentuados para uma situação só. E o trabalho da PF no meio disso tudo. É preciso atenção.