O Brasil sempre foi um país governado por ideais burgueses. Desde a colonização, quando ainda nem existia este conceito de ideal. E viveu se cobrando, ao longo dos séculos, que, essas pessoas esclarecidas, não lutavam por um país melhor e que por isso o Brasil se encontrava em uma situação de muita corrupção, roubos, fome, violência. E sempre se apoiou movimentos de oposição, supostamente em prol da democracia e do bem-estar da população.

Pois é. Esta semana a revista Carta Capital resolveu abolir os princípios democráticos. Por ser um movimento de classe média e alta, o “Cansei”, criado depois da tragédia do avião da TAM, foi altamente ridicularizado, a ponto de se publicar uma foto de uma mulher com a seguinte inscrição: “Sem legenda”. Então, com alguma condição social, é proibido expressar revoltas.

Esta publicação semanal sempre se destacou por romper com os problemas éticos da imprensa em geral. Buscava sempre o outro lado, oculto diante de interesses “maiores”. Mas hoje em dia agarra na “barra da saia” do governo de uma maneira absolutamente estranha. Parece assumir uma posição de diário oficial. É complicado por na capa uma foto de um casal em uma Ferrari com dizeres revoltados, tentando esvaziar uma insatisfação crescente da classe média com o governo federal. Aliás, eu não tenho uma Ferrari e estou insatisfeito e você?

O confuso é que a própria revista deveria questionar o presidente, o porquê dele ter abandonado certas convicções da época de candidato, já que possui uma alma de esquerda. Por que o Lula viaja tanto? Por que o país continua com milhões e milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza? Por que a reforma agrária não foi feita? Por que Luiz Paulo Conde foi para Furnas? Por que o presidente não se posiciona quando há um caso de roubo? Por que o assessor da presidência “top” não foi exonerado? São tantos porquês que seria impossível algum militante com raízes efetivamente petistas, aquele cara que ficou nas ruas quando foi preciso, o cara que defendia que se Lula fosse presidente tudo seria diferente, absolver um homem que se rendeu ao poder. Um homem que se basta ao fazer medidas assistencialistas. Um homem que ao invés de proporcionar a possibilidade do cidadão ascender, prefere adotar as mesmas medidas, antes condenadas, que fazem do pobre um refém do governo.

É como o pai que dá apenas uma mesada ou uma pensão para o filho e o abandona. Sem frutos futuros. Um programa para agora, sem amanhã. Nada de revolução na educação, nada de reformas significativas. Ao povão, parcelas, dívidas. A economia vai muito bem. Bem para quem? Vai bem para o Bradesco e o Itaú, que disputam quem vai ter mais bilhões de lucros. Enquanto isso, a Carta Capital prefere ridicularizar uma manifestação mais que legítima, ao invés de cobrar de seu líder uma postura mais coerente com seus antigos e distantes ideais. Só por que não se vive “embaixo da ponte” não se pode protestar? O governo é péssimo. Tão ruim quanto os anteriores. Com uma diferença: uma hipocrisia danada. A revista tenta dizer que o movimento "Cansei" é golpista e o condena por isso. Mas eu deixo uma pergunta a vocês: qual movimento organizado pelo PT, enquanto não estava no poder, não foi golpista? Mas aí podia. Afinal de contas, era em prol dos pobres e oprimidos da nação. Os mesmo que antes defendiam o povo, hoje vivem em mansões e dão consultoria, com renda superior a R$ 100 mil mensais. Não é José Dirceu? É tempo de olhar para dentro.