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LOTERIA DO RIO
segunda-feira, março 24, 2008
Foto de Alvim Bellis - A paisagem e os guerreiros
Quem não conhece aquela pessoa que dizemos: “Que cara sortudo! Esse ganhou na loteria!” Essas são as maneiras mais educadas de se dizer que alguém tem sorte na vida, sem se referir à região glútea ou à lua.

Então eu vou mostrar a você, leitor, que é possível se considerar um sortudo, um ganhador de loteria, sem nunca ao menos ter “feito uma fezinha”. Levando-se em conta o Rio de Janeiro, vamos às hipóteses:

1) Nunca foi assaltado, ou foi assaltado apenas uma vez, ou está a mais de um ano sem ser assaltado;
2) Não está endividado, graças ao super assédio constante das enormes lojas de departamentos, como Casas Bahia e adjacências;
3) Nunca votou em um deputado que teve seu nome envolvido em maracutaias, principalmente se morar no interior do Estado;
4) Se costuma ir ao Maracanã, nunca presenciou uma pancadaria generalizada nos acessos ao estádio;

E agora a principal:

5) NUNCA TEVE DENGUE.

Viver no Rio é uma façanha. Não fossem as belezas naturais, acho que seria um hospício, com todo respeito aos loucos. A situação é tão ruim que aprendemos a rir das desgraças. Provavelmente você está lendo isso e rindo. E se conseguiu passar pelas cinco questões acima, você pode se considerar um ganhador da Mega Sena.

Estamos apenas colhendo os frutos de um processo histórico que começou há 500 anos e se intensificou há 200. Estão acontecendo vários eventos para homenagear a chegada da família real portuguesa. Hipocrisia pura. Qualquer ser minimamente pensante e inteligente percebe que os portugueses transformaram o Rio em seu quintal. Assim, crescemos achando qualquer coisa boa. Fomos condicionados a rir como hienas. Rir das desgraças. E agora homenageamos os precursores de nossa desgraça.

Com louvor, presidentes, governadores e prefeitos continuaram a cavar o buraco carioca e fluminense. Quem nunca ouviu: “O Rio é a capital do mundo” ou “O Rio é o lugar mais bonito do mundo”. Chega de louvar a natureza. Até ela está brincando conosco, graças à má administração. Um mosquito anda derrubando a população e fazendo autoridades sugerirem aos cariocas andarem de calça no calor de 40 graus. Atestado de incompetência.
Aproximam-se as eleições municipais. Mas e daí? Começou o bate-boca. O bispo diz que um candidato defende a união homossexual, como se isso fosse a pior coisa do mundo. O candidato atacado, se defende dizendo que o bispo defende a união homem-mosquito, fazendo uma referência a epidemia de dengue no estado. Só que o candidato irônico, que se defendeu do candidato preconceituoso, é deputado federal, ou seja, faz parte do governo derrotado pelo bichinho voador. Que belo debate! Assim, vamos continuar lutando para ganhar na loteria e ir embora daqui o quanto antes. Mas não se esqueçam: não reclamem da sorte. Pelo menos enquanto estiverem aqui.
posted by S. N. @ 18:37  
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O Autor

Nome: S. N.
Local: Rio de Janeiro, Brazil
Sobre o Autor: Jornalista.

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