Mais uma vez o Fantástico e a Rede Globo como centro das discussões. No domingo que passou, dia 27/08/2006, foi ao ar, como abertura do programa, uma matéria produzida em Goiás com o uso de câmera escondida, a fim de provar uma denúncia que um candidato do governo daquele estado, no caso, Osvaldo Pereira, do PSL, estaria vendendo o espaço da propaganda eleitoral gratuita para que políticos da região pudessem usá-lo.
A Rede Globo não deixou claro quem fez a denúncia. Nem no programa, nem no jornal do dia seguinte. Da edição de O GLOBO, do dia 28/08/2006, separo o seguinte trecho: “A denúncia que chegou ao Fantástico informava que Osvaldo Pereira tentava fazer negócio com o ex-prefeito de Anápolis, Ernani de Paula...” Mais à frente na matéria, O GLOBO relata que o mesmo Ernani de Paula foi afastado do cargo de Prefeito de Anápolis, com mandato cassado por improbidade administrativa em 2003 e com direitos políticos perdidos até 2007. Em nenhum momento a emissora se preocupou em revelar quem havia feito a denúncia. Sequer usou a justificativa: “a fonte pediu para não ser revelada”. Nada. Também, quem precisa saber isto, não é, Rede Globo?
A sociedade não cobra ética dos meios de comunicação, pois acreditam, e é fato, que esse tipo de matéria leva a prisão de bandidos e é isto que a interessa. Tem lá seu fundamento essa linha de raciocínio, mas ela é de senso comum, é dos expectadores. Voltamos àquele aspecto de imprensa como o “poder que resolve os problemas e pode tudo para resolvê-los”, conceito aderido pela sociedade e imposto por jornalistas. Muito mais por culpa do poder público, obviamente, que deixou a situação ficar desta maneira. Eles não têm credibilidade. A imprensa tem. Então, a imprensa ganha ares de super-herói.
A situação não era fácil. A Globo tinha nas mãos uma denúncia difícil de ser apurada documentalmente. E o mais complicado: tudo leva a crer, lembrando que isto é apenas uma suposição, que a fonte foi o próprio Ernani de Paula. Uma fonte pra lá de duvidosa. Mas não deixava de ser um furo... A audiência deve ter ido ao teto. Mais uma vez, a maior empresa de comunicação do país utilizou-se do recurso da câmera escondida e da falsidade ideológica do repórter. Chamadas foram feitas ao longo do dia de forma inteligente: “Veja no Fantástico desta noite: candidato a governo de um estado da federação tenta vender propaganda de TV.” Para que dizer que era um candidato ao Governo de Goiás? E o pior... um dado apenas revelado bem no finzinho da matéria: “Hoje, segundo pesquisas, o candidato do PSL possui 0,2% da preferência do eleitorado.”
É complicado enganar o telespectador assim. O problema é que não há crítica. Nenhum jornalista chega e diz: “a Globo faltou com a ética”. Fica uma crítica velada, “coisa de estudante universitário”. Vários profissionais que trabalham na Globo estão entre os melhores do mundo na profissão. Por que não fazer uma reflexão crítica desse tipo de matéria antes de levá-la ao ar? A fonte é oculta e/ou duvidosa, a maneira como o assunto foi apurado é condenável, pelo fato do jornalista “se fazer de outra pessoa” e induzir o acusado ao erro. Pegou-se mais um bandido, mas do pior jeito. Deixando a sociedade e nós, jornalistas ou futuros jornalistas, sem saber absolutamente de nada sobre o processo. Contraria muitas coisas que aprendemos na cadeira da universidade...
A Globo é a maior empresa de comunicações do país, reiterando o que eu disse acima e qualquer jornalista não recusaria uma oferta para trabalhar lá. É preciso, então, não se perder a idéia de se fazer um jornalismo ético e para o grande público. Entrar para trabalhar lá e continuar a ser ético, transparente, objetivo. Não se adequar a distorções mercadológicas e abandonar a ética. Se a Globo chegou onde está, foi com conquista de credibilidade e confiança. Mas sempre parece que a ética passa longe dali. Fica a pergunta: Será que ainda existe essa ética? Eu ainda acredito. E para esse tipo de jornalismo praticado e veiculado neste domingo, a melhor imagem é a da figura acima. |
