Um assunto certamente passaria batido por qualquer reflexão deste site. A morte do ex-PM Marcelo Silva não teria espaço em nosso ambiente de reflexão, por pouco ter a acrescentar ao nosso cotidiano. O problema é que a cobertura jornalística exagerou. A Rede TV, no programa da Luciana Gimenez, resolveu exibir uma “reportagem” especial, com depoimentos de conhecidos, amigos, etc. Por ser um programa de entretenimento, aliás, péssimo entretenimento, passa batido na questão jornalística, mas reafirma o caráter exageramente sensacionalista da TV brasileira. O limite foi totalmente ultrapassado mesmo pelo jornal O Dia, do Rio de Janeiro. O periódico carioca colocou em seu site um vídeo que mostra uma conversa da namorada de Silva com policiais e o corpo em todos os ângulos. Leiam agora as palavras do editor-executivo do O Dia, Henrique Freitas, em entrevista concedida ao portal Comunique-se: “É uma imagem relevante, não está simplesmente jogada ali. Se não fosse dessa forma, ela não seria publicada e nós não seríamos procurados por outros veículos de imprensa”. O Imprensa Independente viu o vídeo e aqui o descreveu. Primeiro a namorada conversando com PMs. Depois o corpo coberto. Depois o corpo descoberto, em diversos ângulos, com direito a zoom. Então, amigos, digam-me: qual a relevância dessas imagens? A resposta é fácil: nenhuma.
O jornal O Dia, em seu portal, exagerou demais. O sensacionalismo é evidente. Mostrar um cadáver de cuecas, tensionado provavelmente por espasmos provocados pela morte é de relevância jornalística? O fato do O Dia ter sido procurado por outros veículos de imprensa não quer dizer nada, vide o caso do programa de Gimenez, como dito acima. É o famoso “vale-tudo” pela audiência.
Independente da questão jurídica, que pode render ao jornal processos contra si, a questão é muito mais ética. Até que ponto é preciso buscar o extremo para garantir audiência? Não é possível que alguém entenda que publicar imagens cadavéricas é de relevância e interesse público. Não é. A sociedade precisa fazer o seu papel e expurgar esse tipo de jornalismo de seu cotidiano. Peço, inclusive, que quem estiver lendo isso não vá ao site do O Dia procurar o vídeo. Ou, se for, que esculhambe o jornal na parte de comentários. A imprensa precisa sentir que não é ela quem determina o que se é visto, mas sim a audiência. E a audiência precisa acabar com essa imprensa espetaculosa e vergonhosa. Utopia? É provável. Mas se não podemos mudar tudo, ao menos vamos tentar guiar nossas ações de maneira diferente.
Na mesma semana em que me formo jornalista escrevo um texto falando de mais uma vergonha da imprensa. Espero que continuem a buscar conteúdos qualificados e que se preocupem efetivamente com a notícia e a reflexão válida. Não se deixem levar pelo sensacionalismo e pela selvageria imposta por algumas reportagens ou pseudos-trabalhos jornalísticos. REFLITAM!
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