O Rio de Janeiro se tornou inabitável. A guerra civil é uma realidade que faz novas vítimas a cada minuto, talvez, até, a cada segundo. Mas é inacreditável o que aconteceu com o menino João, nas ruas do subúrbio carioca.
Um roubo de carro, numa rua com sinal, faixa de pedestre, faixa contínua e iluminação pública. Comum? Sim. Acontece toda hora. Assaltos no Rio são tão freqüentes quanto os dias de sol na cidade. Mas a crueldade dos assassinos que estavam no veículo, mostra a que ponto o Rio chegou. Arrastar uma criança por 7 km é fora de qualquer sentido de ser humano. São monstros. Monstros fabricados pelo mundo atual.
Falta humanidade. Aquela a qual me referi no texto anterior. Os pais não educam seus filhos com a mesma atenção de antigamente. O que se vê, até na classe média, é uma juventude que não se preocupa em pensar, em ter uma personalidade. E os pais têm total culpa nisso.
É claro que, em inúmeros casos, os pais são vencidos pela facilidade de se entrar no mundo do crime hoje. Se eu sair da frente do computador e me dirigir à favela mais próxima, e com certeza ela é bem próxima, ganho algum posto no tráfico. E ganharei dinheiro com isso. O crime organizado está preenchendo uma lacuna deixada pelo Estado, que não garante nada a ninguém.
As autoridades precisam se posicionar. Dizer ao povo carioca se elas vão entrar na guerra ou se é para os cidadãos se armarem. É impressionante como a polícia do Rio só aparece para remediar. Horas depois do crime, havia uma patrulha no local do assalto. Tarde demais para João e sua família. E o comandante da PM e o secretário de segurança vão ao enterro do menino chorar? Quem tem que chorar somos nós, que temos pessoas que demonstram incapacidade para liderar a investida contra o crime.
Não há saúde digna, educação digna, segurança digna. O Rio de Janeiro tem precária estrutura de transporte. Pan-americano? Copa do Mundo? É até falta de respeito falar disso. Só falta o governador oferecer ingressos aos pais e à irmã do menino João para a cerimônia de abertura do Pan...
As leis também merecem mudanças. São muito brandas e pouco eficazes. O judiciário precisa ser mais ágil e rigoroso com bandidos. O Brasil é a república da impunidade.
Há pouco mais de 48 horas atrás, eu dizia que queria escrever apenas sobre um momento de amor eterno. Agora, escrevo sobre um momento de sofrimento eterno. É como sair do conto de fadas para a realidade.