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ACIDENTE?
terça-feira, julho 31, 2007
Foto de Hamilton Hamamoto
Não foi acidente. A pista de Congonhas é menor do que o aceitável. Não foi acidente. As empresas aéreas fizeram pressão para a liberação da pista sob pena de diminuírem os lucros. Não foi acidente. Os tais órgãos responsáveis, como Aeronáutica, Infraero, ANAC, não têm comando. Não foi acidente. O Presidente do Brasil é tão omisso que chega a dar a impressão que não fala para não demonstrar que sabe muito mais do que diz saber. Não foi acidente.

Não foi acidente. Centenas de usuários do setor aéreo mortos em duas tragédias. Tudo em menos de um ano. Não foi acidente. Milhares de parentes desamparados e com uma saudade eterna de seus entes que se foram. Não foi acidente. Milhões de brasileiros reféns de um caos aéreo que saiu da gaveta depois de anos escondido. Não foi acidente. Controladores sobrecarregados. Não foi acidente. Empresas desesperadas para ganhar alguns milhões a mais a cada ano. Não foi acidente.

Não foi acidente. Os aeroportos não cresceram e o setor se agigantou. Não foi acidente. Congonhas é de 1936. Não foi acidente. Aeroportos mais novos e modernos operam abaixo de sua capacidade porque não ficam perto do centro empresarial do país. Não foi acidente. A vida humana vale muito pouco perto do dinheiro. Não foi acidente.

Não foi acidente. A grande imprensa não costuma criticar empresas aéreas. Não foi acidente. Empresas aéreas são grandes anunciantes e pautas interessantes. Não foi acidente. O setor cresceu muito e os interesses econômicos também. Inclusive de empresários, certamente bem relacionados com os grandes veículos da mídia. Não foi acidente.

Não foi acidente. Um avião decola mesmo com capacidade operacional limitada. Não foi acidente. O reversor, equipamento que estava travado na aeronave da TAM, é um freio auxiliar e só deve ser usado em situações críticas. Não foi acidente. Ele é um equipamento muito importante para a frenagem do avião quando o freio principal falha ou a pista encontra-se em condições precárias. Não foi acidente.

Não foi acidente. Cortes no orçamento. Não foi acidente. Ministro da Defesa mantido até o limite por ter uma “história honrada”. Não foi acidente. Vivemos em um país que o nome vale mais que a eficiência. Não foi acidente. Temos um presidente que não tem a menor idéia do que é tomar decisões e governar uma nação. Não foi acidente.
Não foi. Não é. Não será acidente. Enquanto tudo continuar sem comando e sem ações efetivas, não acontecerá nenhum acidente. Todos serão crimes. E serão todos criminosos. Presidente, diretores, donos de empresas aéreas. Todos assassinos de terno, gravata e farda. Enfim, não foi acidente.
posted by S. N. @ 16:22   0 comments
O Autor

Nome: S. N.
Local: Rio de Janeiro, Brazil
Sobre o Autor: Jornalista.

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