A idéia de focar a crise de segurança do Rio, e também de todo o Brasil, em problemas legislativos surtiu efeito. A imprensa, tão acusada de manipular, acabou manipulada.
O que se vê, na imprensa escrita, na internet, na TV e até no rádio, com seus debates populares, é sempre algo relacionado à redução da maioridade penal e algumas outras possíveis mudanças nas leis que regem o país. São temas pertinentes, importantes, mas não parecem ser, neste momento, o tema principal a ser discutido pela mídia e levado ao público.
É preciso discutir a segurança mesmo. A polícia, a corrupção, o estado de guerra civil. A legislação é conseqüência. Se existisse uma polícia bem remunerada, sem corrupção e capaz de deter o crime, se o Estado garantisse requisitos básicos, como emprego, moradia, saúde e educação, não seria preciso nem pensar em idade penal.
Apesar da infeliz declaração, onde parecia não estar se importando muito com a situação atual do país e, principalmente, do Rio, o presidente Lula acabou acertando. Não adianta ir diminuindo a idade penal (sobre isso que o presidente falou), pois amanhã, reduzida esta idade para 16 anos, um cidadão de 14 anos vai matar alguém estupidamente e irá existir um novo clamor para nova redução. Triste realidade de um país que não sabe eleger seus governantes. E que quando tenta mudar, esbarra na mesmice.
A mídia precisa romper com isso. Já que as autoridades estão tentando tirar o foco dos problemas principais, é preciso publicar o que o povo sente. Usar as fontes testemunhais para mostrar que todos os dias morrem pessoas de maneira tão estúpida como morreu o menino João. Apenas dizer que está de luto em editorial não ajuda a resolver o problema.
A imprensa, aqui, teria que pressionar. O Rio está em guerra civil e isso já é tratado com desdém, até mesmo pela sociedade. A sensação de que a violência é parte do cotidiano, e é inevitável, é geral. Então, precisa-se reagir. E a mídia não pode se deixar levar pela incompetência das autoridades e seus debates direcionados para acobertar suas próprias omissões.
Mas... será mesmo que a mídia está se deixando levar? ...
