Fazendo uma leitura rápida dos jornais de ontem e hoje o leitor irá se deparar com manchetes e textos que dão um tom de crítica às eleições de Michel Temer no Congresso e José Sarney no Senado, ambos do PMDB, para às presidências destas casas. A volta aos noticiários de figuras como Renan Calheiros, causaram reações emocionadas na imprensa e no povo. Aliás, a responsabilidade pela volta desses antigos caciques é única e exclusivamente do mesmo povo que agora fala mal.
Infelizmente vivemos num país onde discutir política se resume a falar mal de A ou B. Não se vê uma ampla discussão sobre o peso do voto, como escolher o candidato, porque votar em alguém, tampouco sobre a responsabilidade e as consequências do “ato de digitar números num computador disponível em locais de votação”. Está entre aspas, mas parece ser exatamente um sentido literal, uma definição de voto no Brasil. Para se ter uma ideia, na última eleição para a Prefeitura do Rio, no fim de outubro de 2008, houve 20% de abstenção no dia do segundo turno. Tudo porque estávamos no meio de um feriado estadual. Em resumo, prefere-se ir à praia, tomar uma cerveja, conversar com os amigos, a ir votar. Eduardo Paes, hoje prefeito já empossado, venceu Fernando Gabeira por uma diferença muito menor do que os 20%. Paes está legitimamente eleito, sem contestação alguma, amparado pela lei eleitoral brasileira e eu reconheço completamente sua eleição. Quem não foi votar perdeu a oportunidade. Problema de quem não foi.
Então o raciocínio é o mesmo quando se fala dessas duas eleições de presidência no legislativo federal. Não importa que o Sarney é senador pelo Amapá. Não importa de onde vem o político, ele foi legitimamente eleito, reeleito, “re-reeleito”. Daqui a pouco vão dizer que a culpa é do povo do Amapá. E não é. A culpa de políticos como Sarney, conhecido por suas manobras nem sempre angelicais, Renan Calheiros, ou qualquer outro político é do povo brasileiro que não observa nada antes de votar. Amigos leitores, Fernando Collor, o ex-presidente que sofreu o impeachment, é senador eleito. E esse breve artigo não acabaria se eu fosse listar todos os bandidos que estão eleitos no legislativo nacional. Sempre conseguem escapar de condenações, esquivam-se de acusações claras por conta da anuência tanto dos colegas do legislativo, quanto das corregedorias, e também da mão frouxa do judiciário.
Em resumo: o sistema brasileiro tem esse quê de imoralidade por conta do seu voto. Do nosso voto. Façam uma simples reflexão: quantos que estão esculhambando esse novo ato governamental já pararam para ler o programa de governo ou a história de vida da pessoa em que vota? A plataforma, as intenções, o passado. Pois é, a conclusão é óbvia. Chuto que uns 95% nada sabem do seu candidato quando vão votar. Ou sabem superficialmente, sem procurar nada, apenas com o que ele diz. E, é claro, o candidato nunca fala o que já fez de errado.
Sugiro que coloquemos a mão em nossas consciências. Vamos perceber que toda essa bandalha é culpa nossa. Só ficar reclamando, vociferando, criticando, não adianta. Temos que estar irritados com as nossas pessoas. E temos que parar de pensar em ir à praia no dia da votação. Se você acha que ir à praia é muito importante, tem outros 728 dias para ir, já que existem, no máximo, dois dias de votação a cada dois anos. Temos que parar de discutir política de forma apaixonada, temos que ir por lógica, por raciocínio. Temos que analisar. Ou então aturemos Renan Calheiros, Sarney e Cia “tomando champagne” com dinheiro público. A culpa é minha. E sua? |