* TEXTO DE PAULO GRANADA Em plena reunião do G-20 (grupo de países desenvolvidos e em desenvolvimento), em Londres, no último dia 2 de abril de 2009, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez questão de apertar a mão do presidente brasileiro e afirmar: “Lula é o cara". "This is my man, right here, I love this guy", jorrou o presidente americano na reunião de cúpula em que estavam presentes líderes de nações como França, Alemanha, Inglaterra, Japão, Itália, Austrália, Espanha, entre outras, além das já citadas Brasil e Estados Unidos. Peraí? Como assim? O presidente da maior potência mundial rasgando a maior seda para um cidadão que sequer entendia o que de mais básico se falava por ali? Passado o susto inicial, pensa daqui, pensa dali e vem o estalo, tudo fica mais claro. É evidente que “Lula é o cara” na visão dos líderes dos principais países do mundo. Afinal, devem pensar, este “cara” deve ser mágico ou algo que o valha. Porque não deve ser fácil manter índices de popularidade elevados, como é o caso de Lula, “o cara”, numa nação como o Brasil. Direto ao ponto: quando Lula, o “cara” (que tanto berrava contra as viagens internacionais de seu antecessor e agora já o supera em milhares de milhas) vai a uma reunião internacional sobre o que ele fala que tanto pode impressionar seus interlocutores? Tentemos adivinhar ou imaginar o que pode causar tanto impacto nos demais presidentes, primeiros-ministros e afins. Se “o cara” for falar em Educação (e falar a verdade, já que ‘eu não sabia’ não pode), será que o presidente brasileiro vai dizer que nossos estudantes ocupam as posições mais baixas em qualquer índice mundial que analisa a capacidade intelectual dos alunos? Considerado o mais eficaz de todos, que traça um modelo comparativo entre as nações, o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), por exemplo, que avalia até que ponto os alunos próximos do término da educação obrigatória adquiriram conhecimentos e habilidades essenciais para a participação efetiva na sociedade, nos classifica entre os últimos, indicando posições desabonadoras até quando comparados com nações muito pobres. O sistema de cotas mais segrega do que soluciona. Os professores são mal remunerados e proporcionam um ensino equivalente ao valor do contracheque. Aluno dar tiro em aluno ou em professores está se tornando corriqueiro. E as condições estruturais das escolas? Será que na visão de alguém funciona bem? Ou será que é através de nossos serviços de saúde que Lula ganha prestígio no exterior? O que vocês acham? O “cara” está fazendo um bom trabalho na área da saúde pública? Com a palavra quem já teve a má sorte de ter de recorrer a um hospital público – seja de qualquer esfera, municipal, estadual ou federal – para tratar de alguma doença. Todo mundo sabe que o candidato a paciente terá de rezar muito para conseguir se deparar com um médico especialista no problema. Filas intermináveis nos hospitais, doentes largados nos corredores, o sofrimento das famílias tentando internar alguém já viraram imagens corriqueiras nos nossos telejornais. Praticamente todos os profissionais da saúde, também mal remunerados, atendem de forma equivalente, faltam, acumulam empregos e deixam a população na mão. As consultas, quando possíveis, têm de ser marcadas com antecedência astronômica. E os custos exorbitantes dos planos de saúde – que fazem o que querem com o usuário, excluem idosos, criam novas regras sem parar e tudo isso sem um controle efetivo por parte do governo (???). E as nossas instituições políticas? Podem ser elas que conferem status ao “cara”? O Senado com seus 180 diretores e respectivas equipes com salários polpudos. A Câmara com seus inacreditáveis personagens. Um dono de castelo que era corregedor. Nunca declarou a propriedade. Tem dívidas trabalhistas gigantescas, não paga e fica por isso mesmo. A penalidade para ele? Se afastar da corregedoria... Como se isso fosse punição. No país de Obama, provavelmente ele estaria preso. Mas no país do Lula, nada acontece. Deve ser por isso que Obama acha que Lula é “o cara”. Seria chacota? E todo mundo caiu? Mas voltemos aos nossos políticos. E o que dizer do escândalo do mensalão? Todos, literalmente, todos os assessores direto do “cara” foram afastados de seus mandatos por estarem envolvidos no caso. Ainda bem que “o cara” não sabia de nada. Puxa, como explicar isso para o Obama, meu Deus? A injeção de R$ 5 milhões da Telemar na empresinha de fundo de quintal do “carinha”, aliás, do Lulinha, também não deve ter constado da pauta das reuniões internacionais. Ou não? Quem sabe constou, todos souberam que o absurdo passou por todas as instâncias desta nação e ficou por isso mesmo, daí concluíram que, sem dúvida alguma, “Lula é o cara”. E a Justiça brasileira? Lenta e incapaz para os mais necessitados; ágil e simpática com os poderosos. Consegue espantar o governo italiano e permitir o desvio de R$ 170 milhões na construção de um prédio da Justiça (???) sem que ninguém percebesse a tempo. Justiça brasileira. Existe? “O cara” se orgulha de não ter estudado, de não ler livros, de não se manter informado através de jornais, de ser corintiano. Quando acusado de beber demais, resolveu ao seu jeito. Tentou expulsar o jornalista americano que fez a reportagem. Larry Rotter, compatriota de Obama, deve compactuar da opinião do seu presidente? Detalhe. Como o jornalista comprovou que a reportagem tinha sustentação, já que não faltaram fontes confirmando a predileção de Lula pelo álcool, o governo não conseguiu expulsar o repórter. Volta e meia “o cara” é convidado a participar da formatura de turmas de alunos de instituições de ponta do ensino tupiniquim. Coisa rara – ter instituições de ensino de excelência por aqui. Qual a mensagem praticamente obrigatória que “o cara” transmite aos recém-formados, que deram duro, estudaram com afinco e se dedicaram ao máximo para absorver conhecimento? Que ele, que nunca estudou, chegou “ao posto mais alto do país”. Comovente e apropriado, não? Esse é “o cara”. E o maior programa de compra de votos da história mundial – conforme bem tratado pelo governador Jarbas Vasconcelos? Mais conhecido como “Bolsa família”. Para um especialista, numa visão objetiva, trata-se de como manter o pobre sempre pobre. Usando o argumento forte de que ajuda quem vive abaixo da linha da miséria – o que não corresponde à realidade como já foi mais do que comprovado – o programa gasta bilhões de nossa receita para beneficiar um contingente populacional muito bem escolhido: a massa de manobra que mantém este grupo político no poder. A questão é matemática. Pega-se uma fortuna que podia estar sendo aplicada em educação e saúde, por exemplo (o que geraria um país mais digno e com reais condições de avanço) e entrega-se este montante a 30 milhões de pessoas – praticamente o número de votos necessário para eleger um poste à presidência. “O cara” pensa longe. Dilma vem aí. Vamos aumentar o valor do bolsa família (o que já foi feito) e a quantidade de pessoas beneficiadas (o que será feito à medida que a eleição se aproxima). Vale tudo. Mas um tema que está na moda, recorrente entre os políticos dos principais países do mundo, também pode ser o motivo da boa impressão causada pelo “cara”. O meio ambiente. Talvez o presidente brasileiro chame a atenção da cúpula internacional com o esmero com que cuida de nosso patrimônio natural. A Amazônia não está sendo desmatada ferozmente – são só algumas áreas do tamanho de alguns campos de futebol que são destruídas por dia. Nossos rios não são assoreados e, para ficar num exemplo local, a Baía de Guanabara tem água tão limpa que dá até para beber. Somos tão amigos das outras nações que deixamos que venham aqui e registrem nossas plantas e outros tesouros naturais como se fossem deles. “Brasileiro é tão bonzinho” já dizia uma comediante de outrora com sotaque americano.... Ih, olha os Estados Unidos aí de novo... Bem, para não me alongar mais e não tomar mais o tempo ninguém podemos concluir que é pelo conjunto da obra que Lula é considerado “o cara”. Motivos não faltam para os líderes do G-20 baterem palmas de pé para um presidente de uma nação pujante e próspera como a nossa. Chega a ser fácil de entender os elevados índices de aprovação de Lula. Pois todos aqui vivemos muito bem, não fomos afetados pela ‘marolinha’. Como bem disse Lula durante a campanha presidencial, no governo dele todos teriam um prato de comida todos os dias para saciar a vontade de comer – lembram do Fome Zero? Que fim levou? Para dar uma trégua a quem acha que Lula é o “cara”, pode-se dizer que ele impressiona a cúpula internacional com a austera política econômica. Por termos reservas financeiras robustas. Mas neste caso não se tem a impressão digital do governo petista... Afinal, a estabilidade da moeda foi uma criação de Itamar Franco, endossada por Fernando Henrique Cardoso e copiada por Lula – que, aliás, quando fazia irresponsável oposição nos tempos de ‘companheiro’, dizia que era um péssimo negócio para o Brasil e para o mundo. Dizem que a única coisa de boa que Lula fez foi manter a política econômica do antecessor. Em suma, que história é essa de que Lula é “o cara”? Como diria um amigo meu, “Lula é o caralh&%%$#$”! ------------------------------------- Paulo Granada é jornalista. |