Imprensa Independente: 23 de mar. de 2009

Na tarde desta segunda-feira recebi um e-mail de uma leitora idosa que reclamava de maus tratos ao ser atendida em um determinado estabelecimento. Agora imaginem vocês quantos idosos são maltratados diariamente por aí? E não só fora de casa. Vários idosos são excluídos da vida e tidos como imprestáveis por suas próprias famílias. Em nossa reflexão vamos levar em consideração idosos que possuem lares, famílias construídas. Não que os idosos que vivem em situações piores devam ser excluídos da análise, mas estes são um grave problema de estado, assim como pessoas mais jovens que estão abaixo da chamada “linha da miséria”. Estes são excluídos não pela idade, mas pela condição social, o que é um igual, senão pior, absurdo.

Obviamente, toda regra tem exceções. Mas raciocinem comigo: ser idoso é ter vivido diversas situações da vida e ter uma experiência ímpar. Ser idoso é ter construído uma família, uma rede de contatos ampla, é ter muita coisa para contar. Não adianta depois da morte de um ente querido de idade avançada, chorar sobre seu caixão. É preciso valorizá-lo em vida. Nós, jovens etariamente, teimamos em achar que os mais velhos são chatos, ranhetas, cheio de manias. Mas e nós? Ai de quem tentar tirar sua toalha de banho do lugar. Ou esconder seu pente de estimação? Que tal perderem nossos carregadores de celular? Todos nós temos manias e preferências. Maltratar idosos é dar um tiro no pé. Além de uma falta de educação sem precedentes.

Pois é. Não existe pessoa imprestável, existe pessoa sem vontade de prestar. E ser idoso é servir para tudo. Nem sempre fisicamente, mas mentalmente. Aproveite seu tempo para ter uma conversa com seus avós. Perceba como é interessante bater um papo com aquele velhinho que você vê em sua portaria chegando de uma breve caminhada quando você, sempre atrasado, passa por ele e às vezes nem dá bom dia. Se estiver em seu trabalho e um idoso chegar querendo informação lembre-se de seus avós. Mesmo quem não conheceu os avós possui um carinho por eles. Uma saudade de um convívio que nunca aconteceu. Atenda o idoso com o dobro de sua dedicação, pois este pode ser comparado a quem te gerou, a quem te criou, a quem te fez o que você é hoje.

Quem estiver na meia idade, por volta dos 40, 50 anos, estenda este raciocínio aos seus pais. Pare para pensar se o seu pai, ou sua mãe, fosse a algum lugar e lá recebesse um tratamento ruim. Aposto que você seria o primeiro a se insurgir. No Brasil existe o chamado Estatuto do Idoso, legislação que garante direitos aos idosos. Uma lei que existe, essencialmente, pela falta de educação das pessoas mais jovens. Jovens que são os verdadeiros velhos. Os jovens não têm tempo para si. São em maioria sedentários, estressados, demasiadamente ocupados. Têm cabeça e comportamento de velhos. Por isso mesmo, invejam a posição dos idosos, o que gera insatisfação com uma possível lentidão até chegar à porta do elevador que estão segurando, uma irritação com uma dificuldade para entender algum processo mais moderno, como enviar e-mails, fazer ligações pelo celular. Os jovens estão velhos. E os idosos estão prontos para viver novas experiências, para reaprenderem com os netos o que eles mesmos ensinaram, para curtir seu tempo livre e cumprir as obrigações que ainda lhes forem designadas. Os idosos estão jovens. E isso dói. Maltratar idosos é inveja pura.