Lançado recentemente, o Blog da Petrobrás ( http://petrobrasfatosedados.wordpress.com/ ) causou críticas pesadas das empresas de comunicação e de jornalistas. A primeira, e principal crítica, foi a respeito da Petrobrás publicar em seu blog informações colhidas por jornalistas antes destes publicarem suas matérias em seus meios de comunicação. Outra questão levantada foi o fato de a empresa usar o blog para atacar a imprensa e pressionar o Poder Legislativo, quanto às matérias publicadas de maneira a incomodar a visão institucional da Petrobrás e quanto a tal da CPI furadíssima, e totalmente dominada pelo governo, que tentam fazer ir à diante.

Categoricamente um blog, como este lançado pela estatal do petróleo, é feito de opinião, na maior parte das vezes. Opiniões, informações, fatos, argumentos. A web é um território livre e sem concentração do chamado “poder da informação”. Não vejo nenhum problema em a Petrobrás ter um blog, lugar onde exprima a opinião institucional dos fatos. Está claro que é o blog da Petrobrás. Muito mais grave é o que a grande imprensa faz, usando de seu espaço enganosamente vendido aos leitores e consumidores de informação como imparcial, de forma a tentar conceber apenas versões de fatos que lhe interessam.

Acredito que o melhor caminho para esta ferramenta da empresa é comentar ou publicar o que passou de informação após a publicação no veículo que apurou tais fatos. E esta opinião é embasada apenas em questões jornalísticas, como exclusividade, apuração bem feita e busca pelo que é de interesse público. Senão, é melhor “fechar” a imprensa e deixar com que as empresas digam o que quiserem e ponto. E todos nós sabemos que a visão institucional nem sempre corresponde aos fatos em si. Usar o blog para revelar conteúdos ocultados por jornalistas e veículos tendenciosos é uma situação muito interessante, não só para a empresa, mas também para todos. Mas vale lembrar que a internet por si só, mesmo não sendo por intermédio do “blog da fonte jornalística”, antecipa tudo que vai sair no jornal impresso do dia seguinte. Este, sim, passa por uma crise existencial, tendo que se reinventar quase que diariamente, para continuar angariando leitores e adeptos.

O exemplo clássico seria uma entrevista com o presidente da instituição que fosse editada e publicada de uma maneira a passar alguma impressão errada do que foi dito. Isso acontece todo dia na grande imprensa. Ouve-se o entrevistado por 20 minutos ou mais. Este fala sobre os assuntos abordados e no fim da entrevista acaba cometendo uma gafe ou deixando algo subentendido. Deste pequeno fato, o jornalista vai fazer uma celeuma sem fim. Principalmente se a linha editorial de seu veículo for contra setores do governo ligados à Petrobrás. Então que problema haveria em a Petrobrás publicar na íntegra a entrevista concedida? Nenhum. Aliás, estaria prestando um serviço interessante à sociedade. Talvez seja este o real medo da grande imprensa. Ver suas próprias máscaras caindo através de uma mídia democrática e social, na qual o blog está inserido.

Com relação aos ataques à imprensa e a expectativa de esvaziar uma CPI que já está para lá de esvaziada, os argumentos do professor titular de Filosofia e Ética da Unicamp, Roberto Romano, usados em uma entrevista ao O Globo Online ( http://oglobo.globo.com/pais/mat/2009/06/09/para-especialista-em-etica-petrobras-tenta-intimidar-congresso-imprensa-com-blog-756277620.asp ) me parecem uma visão editorial do jornal carioca. Serve de exemplo claro para o que acabei de falar acima. Pegaram uma fonte que lhes diriam algo agradável para seus ouvidos e tornaram aquilo uma verdade para seus leitores. A sorte é que na internet a coisa é um pouco mais equilibrada. Choveram comentários negativos à entrevista e a média das notas dadas à matéria até sábado, 13/06/2009, às 1h15, era de 1,5. Vale a pena ler a entrevista para que vocês percebam o quanto ela é interessante para uma mídia dominante como é a Globo.

Posiciono-me, então, a favor do blog da Petrobrás, mesmo discordando de alguns pontos do uso, como com relação à publicação de matérias antes do órgão de imprensa apurador. O blog, além de divulgar ações da empresa, pode ser uma ferramenta para esclarecimentos à sociedade de informações publicadas na mídia. Cabendo à grande imprensa dar aos seus leitores subsídios claros de que não está abusando de sua posição editorial. Aliás, tudo que vêm a ameaçar o império midiático dos conglomerados e suas verdades interesseiras é rapidamente ridicularizado e atacado pelas empresas de comunicação. O blog será mais uma ferramenta. Acho muito positivo haver mais um contraponto a tudo que é publicado, seja ele ligado a uma corporação ou não.

A internet se transformou em um instrumento que causa horror aos grandes conglomerados de comunicação. Com uma difusão de ideias impressionante, a web dissemina rapidamente informações diferentes das publicadas em um jornal ou, até mesmo, em uma página de internet ligada a estes conglomerados. Com isso, desconcentra-se o processo de produção da informação em diversas redes, formando-se uma imensa teia de ideias díspares ou complementares, com uma versatilidade incontável. A multiplicação intensa de jornalistas, comunicadores e corporações, que usam a web, com destaque para os blogs, como meio de produzir conteúdo informacional, incomoda muita gente. Muitos blogs incomodam, incomodam muito mais.