Última semana de 2006, Rio de Janeiro. Facções criminosas rivais se unem e cumprem atentados nas ruas da cidade do Rio e na região metropolitana. O pior dos incidentes, se é que se pode fazer algum critério de importância nisto, foi o incêndio do ônibus da empresa Itapemirim, que estava no Rio apenas de passagem, e levava pessoas do Espírito Santo para São Paulo. Provavelmente, a maioria delas, estava indo visitar a família ou um amigo querido para passar a virada do ano.
Isto, leitor, estava. Exatamente essa palavra, que chamou a sua atenção, é a mais importante do trecho acima. Para alguns dos passageiros, nenhum verbo será conjugado novamente. E é assim que saímos de casa, conjugando verbos. Quando começamos o dia, pensamos: “Tomara que nada aconteça.” Quando retornamos para casa, pensamos: “Graças a Deus estou de volta, inteiro.” Intimamente ou explicitamente, pensamos assim sempre. E isso porque não temos governo, não temos polícia, não temos ações, sejam elas políticas, de segurança, sociais, ou qualquer outro tipo. O que se vê é um abandono completo das ruas e das instituições que deveriam lutar pelo bem-estar do cidadão comum.
O Comandante Geral da Polícia Militar do Rio, Coronel Hudson Aguiar, em entrevista, disse que a população não precisa temer nada e que a PM está tomando conta da cidade de forma intensa e rígida. Mais uma vez, requisito um nariz de palhaço, como em outras situações ao longo do ano. Bandidos queimam pessoas vivas e a cidade está plenamente protegida? Esse é o mal que existe em pessoas meramente políticas. A governadora Rosinha não expressou o menor sentimento ao falar do assunto. O Sr. Hudson Aguiar fala essas coisas em rede nacional. Enquanto isso, ônibus vira crematório.
É preciso haver uma mudança radical de mentalidade de comando. Não dá para demitir milhares de policiais e resolver o problema. A mudança é de mentalidade. Ou se governa para o povo e contra os bandidos ou se admite que os traficantes fazem o que querem, na hora que bem entendem. A bomba está no colo de Sérgio Cabral e seus comandados.
Um susto muito bem dado seria o Rio de Janeiro perder o direito de sediar os Jogos Pan-americanos de 2007. Seria extremo, mas a situação atual não é extrema? Não posso nem pensar na dor de ter um parente ou um amigo morto, cruel e covardemente, como morreram os civis no ônibus da Itapemirim, a ambulante em Botafogo e o homem que ia prestar queixa na delegacia e acabou metralhado. E o mais incrível, é que esta dor já nos assola, mesmo não sendo ninguém próximo. Porque quem está próximo, cada vez mais, é o perigo de perder a vida numa situação dessas.
A perda da sede soaria como vergonha nacional. E isso feriria muito mais do que “simplesmente” inocentes que andam pelas ruas. Feriria a imagem do Rio e do Brasil no mundo, os governos, municipal, estadual e federal. A partir daí, tenho certeza que atitudes muito mais eficazes seriam tomadas.
Que 2007 seja mais que o ano do Pan do Rio. Seja o ano da virada na segurança do Rio de Janeiro. Com ou sem Pan.