Cresci vendo a propaganda do Bombril, uma marca de palha de aço, em que o apresentador cantava jingles ou contava situações do dia-a-dia em que o produto seria usado. E o slogan principal atribuía a esta palha de aço “mil e uma utilidades”. Pois bem, o link está apenas no número.
Existe em Niterói uma empresa de ônibus chamada 1001, conhecida por seu estilo imponente e aparentemente eficiente. Eficiência esta que só fica no papel. A verdade é que a 1001 opera em regime de monopólio às linhas Charitas-Castelo e Itaipu-Castelo, no que diz respeito a ônibus “frescão”, ou seja, aquele ônibus de viagem, que deita parcialmente a poltrona e tem ar-condicionado. Sendo assim, faz o que quer.
Hoje, 06/04/09, mais uma vez de tantas outras, vivi um super atraso desta empresa. Segundo o despachante havia um enorme acidente na Ponte Rio-Niterói que bloqueava a chegada dos ônibus a Niterói. A questão é que, no período entre 7h40 e 8h35, em que estive no primeiro ponto da Praia de Icaraí, só de ônibus da 1001 de outras linhas, como Charitas-Leme, Charitas-Gávea e Charitas-Galeão, foram 17. Contados. O tempo de viagem foi de 1h, normal. Nenhum acidente ou coisa que o valha foi detectado por mim no caminho.
O preço da passagem da complicada linha é R$ 5,80, com um adesivo indicando que é uma “promoção”. Você pode desistir do 1001 e pegar um ônibus qualquer, mas que parecem fornos no calor de 30 graus matinal que cisma em assolar os fluminenses na maioria das manhãs. Ou então ir de barca ou catamarã de charitas. E é aqui que começa mais um problema.
A 1001 administra tanto as barcas quanto o catamarã. Pegar uma barca hoje é um suplício. O serviço é péssimo e a barca mais parece um microondas gigante que bóia. Com propriedade, foi chamada, por um leitor de O Globo, de “barca da Finlândia”, por seu “natural” sistema de “aquecimento”. A passagem custa R$ 2,50. Já o catamarã, aquele mesmo que quase foi invadido por uma onda “gigante” numa ressaca do mar, custa inexplicáveis R$ 8,00.
Considerando que um ônibus abriga 45 passageiros em média, no horário matinal, de Charitas para o Rio, chegamos ao valor de R$ 261,00 de bilheteria por viagem. Ainda temos a arrecadação do ônibus que faz Itaipu-Castelo, com a passagem no valor de R$ 7,00. Considerando a mesma média da linha de Charitas, chegamos ao valor de R$ 315,00 por trecho. No catamarã, no mesmo horário, existe uma média de 40 passageiros, o que gera uma arrecadação de R$ 320,00 por viagem. Já nas barcas com uma média de 1.200 passageiros, também no mesmo horário, chega-se ao valor de R$ 3.000,00 a cada viagem. Somados, entram nos cofres da 1001, a cada viagem, ônibus + barcas + catamarã, cerca de R$ 3.900,00. Esse valor, volto a dizer, é estimativo, corresponde a apenas UMA viagem de cada um dos transportes e só considera linhas de ônibus para o centro do Rio e as duas concessões marítimas. E desconsidero também as despesas, por ter quase certeza que não ultrapassam metade da arrecadação.
O mínimo que se pode exigir de uma empresa com uma receita dessas é respeito aos usuários. E é exatamente isso que falta. E para fugir da 1001 só se você for no “forno” azul. Ou então de carro, encarando aquele trânsito. É possível também sendo triatleta. Para fugir da 1001, vá de bicicleta até a estação das barcas. De lá, nade até o outro lado, ou seja, a praça XV. Ao chegar, corra até seu trabalho e nunca mais irá se aborrecer com esta empresa que cresceu mais do que poderia crescer e anda tropeçando em si mesma. Desconfio que a 1001, hoje, inspiraria nossa conterrânea, Fernanda Keller. Ter paciência é preciso!